Aprender e descobrir o mundo com alegria e equilíbrio

Educação Harmônica no Ensino Fundamental

O início da vida escolar da criança, seja no berçário ou na educação infantil, é cercada de expectativa. Questões relativas à adaptação, ao relacionamento com os novos amigos, às características da escola e do professor invadem a cabeça dos pais e inundam as crianças de novidades. Quando a transição se dá da educação infantil para o ensino fundamental, outras mudanças e novidades se apresentam. A criança está em transformação. Ela está prestes a adentrar em um universo até então desconhecido, que precisa ser mapeado e entendido, pois formará a base de toda sua vida escolar.

A escola deve oferecer o conteúdo adequado a cada etapa do desenvolvimento infantil.

Os primeiros anos do ensino fundamental podem ser comparados à base de uma construção. Ao ser construída, toda casa precisa de uma boa e sólida fundação para que suas paredes se ergam fortes, sustentem uma boa cobertura e, um dia, possam abrigar futuros moradores com conforto e segurança. É exatamente assim que se pode pensar nos primeiros anos do ensino fundamental. Essa é a etapa na qual as crianças terão a oportunidade de construir a base sobre a qual irão erguer seus projetos futuros, reunir as forças que lhes permitirão realizá-los ao enfrentar com coragem os desafios reservados pela vida e cultivar a veneração pelo que é bom, belo e verdadeiro.

Para que essas conquistas possam se concretizar, um dos caminhos possíveis é cuidar para que, desde o início de sua vida escolar, as crianças tenham a oportunidade de aprender a descobrir o mundo por elas mesmas, com autonomia e equilíbrio, apropriando-se também de sua capacidade de transformá-lo. Isso significa que a escola deve respeitar o ser da criança e possibilitar que ela se empenhe no aprendizado escolar com o mesmo entusiasmo dedicado às brincadeiras infantis, que ainda devem ser vivenciadas. Um segundo cuidado é oferecer o conteúdo adequado a cada etapa do desenvolvimento infantil.

A escola deve respeitar o ser da criança.

Uma intelectualização precoce pode fazer com que a criança corra o risco de perder vitalidade, ao desviar para o aprendizado forças que deveriam estar sendo utilizadas para seu desenvolvimento físico. A ideia é defendida por Rudolf Steiner (1861-1925), criador da Pedagogia Waldorf, segundo o qual a entrada no ensino fundamental e o aprendizado da leitura, escrita e aritmética, deve ocorrer após a primeira infância.

Não que antes as crianças não possam aprender, porque aprendem e até mais rápido do que se pode supor. Submetê-las muito cedo a um processo de alfabetização, porém, seria algo como exigir que um maratonista de grande potencial iniciasse a corrida com sua velocidade máxima. Ele iria muito bem e à frente de todos, mas antes da metade da prova, certamente, já daria sinais de exaustão e dificilmente completaria o percurso, por ter se esquecido de uma regra de ouro: manter o ritmo adequado e respeitar seus limites.

Regra de ouro: manter o ritmo adequado e respeitar seus limites.

Após a primeira infância, por volta dos 7 anos de idade, meninos e meninas já demonstram maturidade para treinar a memória, desenvolver habilidades e hábitos, amadurecer gradativamente um pensar claro, fortalecer o caráter e guiar sua imaginação por caminhos saudáveis. O mundo da leitura e da escrita poderá então ser desvendado com prazer e alegria, se apresentado na hora certa e se for vivenciado pela criança pelo caminho da criatividade e da arte.

Desenho, pintura, música, poesia, escultura, teatro, artesanato, culinária, jardinagem e outras atividades artísticas são valiosos instrumentos pedagógicos para uma educação integrada, voltada para uma sólida formação humana.

Na Pedagogia Waldorf, o pensar, o sentir e o agir compõem um tripé sobre o qual se tecem os conteúdos de todas as disciplinas do currículo escolar, rigorosamente de acordo com os parâmetros curriculares nacionais do Ministério da Educação. No cumprimento das atividades escolares há uma regra de ouro: além do ritmo e dos assuntos adequados a cada idade, todo o conteúdo deve ser primeiro vivenciado e experimentado, para só depois ser apropriado pelo aluno intelectualmente. Ele aprende o que o toca ou, dito de outra forma, o que o aluno aprende faz sentido em sua vida.

As disciplinas do currículo escolar seguem rigorosamente de acordo com a Base Nacional Comum Curricular – BNCC, do Ministério da Educação.

A escolha consciente do tipo de educação a oferecer aos filhos – o que vale também para o que é oferecido dentro de casa – terá, portanto, reflexos inevitáveis na vida adulta. Uma educação que se preocupe em formar seres humanos livres, capazes de alcançar o sucesso profissional aliado ao equilíbrio emocional, através de escolhas conscientes, é uma opção de caminho. A guiá-los nos primeiros anos, um professor imbuído do que se pode chamar de “autoridade amorosa”, é capaz de criar regras, rotinas e limites, com amorosidade, no cultivo diário de valores como veneração pela vida, respeito ao outro, amor e entusiasmo pelo trabalho. Através da confiança serena nos adultos, a criança poderá desenvolver a confiança em si mesma, em um importante estágio de construção de uma liberdade consciente e responsável.

Margareth Xavier –Pedagoga, professora com formação em Pedagogia Waldorf e especialista em Psicopedagogia. Em formação em Pedagogia Terapêutica e Terapia Social