A importância do brincar

O que é o brincar livre?

Quando se quer proporcionar saúde e bem-estar à criança, busca-se oferecer-lhe uma alimentação equilibrada, exercícios físicos regulares, um bom sono, uma boa escola e atividades extraclasses, dentre outros elementos. Há, entretanto, um aspecto do qual pouco se fala e que é essencial para a saúde física, emocional e mental da criança. Trata-se do brincar livre. Todas as crianças do mundo já trazem consigo a necessidade de brincar. Elas não somente querem, mas precisam descobrir o mundo, o outro e a si mesmas através do brincar espontâneo, construído através de sua imaginação, da observação, da imitação e da experimentação. Quando a criança tem tempo e espaço adequados para brincar livremente, ela vivencia uma série de descobertas que atuarão de forma construtiva em seu desenvolvimento corpóreo e psíquico.

Mas o que é o brincar livre? É o brincar que nasce da própria criança, de forma espontânea, em sua interação com o ambiente e com as outras pessoas.

E o que garante um brincar de qualidade, aspecto tão importante para o desenvolvimento saudável da criança? Antes de tudo, ela precisa de tempo. Tempo para perceber o mundo à sua volta, se perceber e perceber o outro; vivenciar com calma tantas sensações e impressões que seus sentidos lhe permitem captar. Ela quer tocar em tudo, sentir o cheiro e o gosto, ouvir e olhar com uma atenção que lhe é peculiar. A criança vive mergulhada no presente e por isso consegue estar inteira em cada experiência que vive, levando consigo, para a vida toda, cada pequena descoberta que faz. Ter tempo para brincar é ter a oportunidade de criar soluções para situações desafiadoras e de tentar repetidamente, por exemplo, superar um obstáculo. Vivências como estas lhe permitirão exercitar a força de vontade, a determinação e a perseverança, podendo, na vida adulta, vislumbrar diferentes formas de lidar com um desafio e ter persistência para vencê-lo.

Além de tempo, a criança precisa de espaço. É fundamental que o espaço físico à sua volta lhe ofereça liberdade e segurança, ao mesmo tempo. Um ambiente aconchegante, seguro, limpo, confiável e livre de muitos estímulos visuais e sonoros permitirá que a criança movimente-se sem receios ou medo. Se o espaço oferece uma quantidade muito grande de objetos, cores, formas, texturas e sons, a criança fica absorvida por esses estímulos, tornando-se, muitas vezes, cansada e até mesmo irritada.

Vale também lembrar, em se tratando do espaço, que brincar dentro de casa é tão importante quanto brincar em espaço aberto, pois as duas vivências atuam de forma complementar no desenvolvimento equilibrado da criança. Brincando ao ar livre, ela pode realizar movimentos amplos e benéficos para o desenvolvimento de sua consciência corporal. Ela pode correr, pular, subir, descer, deitar-se, arrastar-se, balançar, rolar, encolher-se, esticar-se, abaixar-se, levantar-se, rodopiar, esconder-se, equilibrar-se, sair e entrar inúmeras vezes. Em ambiente fechado, ela tende a realizar movimentos menores e mais lentos, trabalhando a concentração e experimentando a quietude. Assim, ela aprende, pouco a pouco, a vivenciar alternadamente a descontração e a calma, a movimentar-se e aquietar-se em um ritmo equilibrado.

Outro importante aspecto são os brinquedos. Brinquedos simples ou elementos da natureza permitem que a criança desenvolva sua capacidade de criar, recriar e imaginar. Quem não se surpreende com as infinitas possibilidades que ela inventa ao brincar com simples pedrinhas? Ela constrói diferentes brincadeiras e situações com pequenos objetos, se somos capazes de nos conter e não lhe oferecer o tempo todo brinquedos prontos e acabados. Quanto mais simples eles forem, mais possibilidades oferecerão à rica imaginação infantil, pelo fato de não trazerem uma ideia pronta. A criança inventa um modo de funcionamento para o novo brinquedo que surge, a cada instante, a partir de um mesmo objeto. Ela lhe dá diferentes nomes e funções, vivenciando, assim, um profundo e rico exercício imaginativo. Essas experiências alegram os pequenos, que são essencialmente seres criativos e trazem consigo esse impulso de “inventar moda” o tempo todo.

Pessoas que têm a oportunidade de exercitar sua criatividade na infância desenvolvem autoconfiança e autonomia, pois descobrem sua capacidade de criar coisas novas e belas através do brincar livre. Além disso, o brincar espontâneo pode ter também um papel terapêutico, pois permite que a criança dê vazão a sentimentos negativos vivenciados em alguma situação difícil, fazendo, de forma natural, uma verdadeira faxina interna. Por outro lado, ao brincar a criança reproduz situações da vida cotidiana, imitando os adultos com quem convive. A brincadeira tem, portanto, um efeito de alimentar hábitos saudáveis, como cuidar da casa e de si mesmo, lavar o carro, cozinhar, lavar as roupas, organizar seus pertences, regar as plantas, cuidar de animais e separar materiais recicláveis, por exemplo.

O brincar é uma experiência tão importante para a vida das crianças que no mês de maio comemora-se o Dia Internacional do Brincar. Que nós, adultos, possamos refletir sobre esta atividade essencial da infância e resguardar, em nossa vida diária, este direito fundamental das crianças. Que possamos assegurá-lo, em meio à correria do dia-a-dia, proporcionando as condições necessárias para que as crianças possam brincar, tornando-se pessoas felizes, equilibradas e independentes.

Luciana Lages – Pedagoga e professora fundadora da Escola Ipê Amarelo. Formação em Pedagogia Waldorf. Em formação em Pedagogia Terapêutica e Terapia Social

Raquel Vilela – Socióloga e professora fundadora da Escola Ipê Amarelo. Em formação em Pedagogia Waldorf