Meu filho aos 4 anos já sabia ler e escrever, mas sua necessidade era brincar

Hoje gostaria de compartilhar com vocês uma das mais lindas experiências que estamos vivendo.

Meu filho Francisco sempre estudou em escolas de educação infantil tradicionais, dentre elas uma Emei em BH que, de todas elas, seguramente, foi a melhor. Contudo, no decorrer dos anos, fui percebendo como não estava sendo benéfico para Francisco um modelo tão rígido, centrado no desenvolvimento de habilidades cognitivas e intelectuais. Por mais que a BNCC amplie as ações da educação infantil, o que vemos na realidade é muito distante: crianças sendo alfabetizadas a partir dos 4 anos, com pouquíssimo tempo para brincadeiras, para movimentação do corpo, sendo exigido delas que fiquem tempos longos sentadas em uma carteira, fazendo atividades pouco criativas e abertas. Fora os modos de comunicação com as crianças, permeados de uma violência nos discursos, com ameaças de bilhetes, suspensão do recreio e do horário (tão escasso) de brincar no pátio; carinhas tristes, bilhetes azuis e mais uma série de recursos utilizados em muitas escolas para o controle das crianças. (…)

A verdade é que, no meio do ano, Francisco estava tão rígido, tão pouco espontâneo e livre, tão desconectado de sua essência, tão inseguro para usar o corpo no espaço, que decidimos que não seria mais possível adiar a mudança de escola e da proposta pedagógica. Já tínhamos planos de colocá-lo em uma escola de Pedagogia Waldorf, dada a nossa afinidade com muitos princípios, especialmente com a compreensão e o respeito diferenciado pelo desenvolvimento infantil; pela honra que sem tem pelas crianças e pelos seus processos de construção ativa e criativa de conhecimentos e habilidades; pelo espírito de coletividade, que anda na contramão de uma cultura individualista e competitiva.

Meu filho aos 4 anos já sabia ler e escrever, mas sua necessidade real era brincar, criar, experimentar, com liberdade e presença afetiva. Definimos a escola e passamos a integrar a comunidade escolar, nos associamos e temos encontrado novos pares, o que nos traz um certo alívio, em tempos tão sombrios como os que vivemos. Em um mês, percebi que meu filho era como um passarinho em uma gaiola com a portinha aberta. Hoje ele voa livre, balança, corre, trepa em árvore e vai para a escola para brincar, para atender suas reais necessidades. Eu, por minha vez, continuarei falando aos quatro ventos, em cada escola que eu visitar para dar formação, em cada apresentação que fizer, em cada atendimento de terapia ocupacional que eu realizar: respeitemos os sagrados tempos das infâncias. Só assim, teremos alguma chance de sobreviver enquanto humanidade e transformar nossos contextos, nossos espaços e realidades. Porque serão essas crianças que estarão nos lugares de decisão, de poder, de construção do conhecimento e, então, estarão imbuídas de um senso de coletividade, de empatia, com o olhar mais sensível.

Juliana, mãe de aluno da Escola Ipê Amarelo
(depoimento publicado no Instagram)